Ferramenta útil para avaliação do estado emocional do aluno

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

Como te sentes hoje?

30/09/2020

Utilização de emojis para avaliação do estado emocional do aluno

Depois da tempestade vem a bonança, dizem. Mas depois da tempestade violenta do ano letivo anterior, que exigiu aos professores muito esforço de adaptação, foco e criatividade e muita aprendizagem em tempo real, a bonança teima em não chegar. O ano letivo iniciou com novas regras, em muitos casos representando um retrocesso pedagógico, como o posicionamento do professor num púlpito, distante dos alunos e longe do bulício de uma turma fervilhante (que é o local onde a informação se converte em conhecimento relevante). As turmas que estavam dispostas em "ilhas ativas" voltam a estar em "comboios passivos". A linguagem verbal e não verbal esconde-se agora atrás de uma máscara.

Neste momento, nas escolas, a palavra de ordem é CRER. É ser:

Criativo - para resolver os problemas com novas fórmulas;

Resiliente - para aceitar o que não está nas nossas mãos mudar;

Empático - para com todos, alunos, famílias, colegas. Os reflexos do confinamento e de questões como o desemprego ou as relações familiares complicadas que se exacerbaram deixaram marcas em todos;

Reflexivo - para avaliar as estratégias que delineamos. Estamos a ensinar num cenário novo e devemos também ouvir os estudantes e saber se a aula que estamos a dinamizar está a chegar aos alunos, ou se devemos reformular a estratégia. Eles sabem se estão a conseguir aprender, se as aulas são motivantes, se ir para a escola é relevante.

Para estar focado numa aula, o aluno tem de estar recetivo. Pelo menos, durante a aula. Se tem fome, violência em casa, ou não se sente bem na sua pele, poderá ter dificuldade em aproveitar a aula.

Uma estratégia para avaliação do estado emotivo dos nossos alunos, de muito simples aplicação e interessante para todos os níveis de ensino, é recorrer a emojis para os alunos exprimirem como se sentem quando chegam à nossa aula. Esta atividade pode recorrer aos telemóveis dos alunos. Nesse caso, podemos utilizar ferramentas digitais como o Mentimeter e fazer a pergunta "Como te sentes hoje?", utilizando emojis como opção em respostas de escolha múltipla. Outra forma pode ser imprimir folhas com os vários emojis (plastificadas, para mais fácil desinfeção), que distribuímos pelos alunos, para que mostrem o emoji que corresponde ao seu estado de espírito desse dia (ou para que o coloquem numa caixa, mantendo o anonimato).

A partir daqui, podemos fazer uma série de perguntas para debate, ou chamar alunos em privado. É uma forma de termos uma ajuda à comunicação não verbal e de garantir que ouvimos todos, do aluno mais expansivo ao mais tímido. É uma linguagem universal, compreendida por alunos de todas as nacionalidades, e é, por isso, uma linguagem inclusiva. Pode ser um excelente ponto de partida para uma reflexão individual ou coletiva, potenciadora da empatia, da resiliência e da criatividade. É uma prática que também promove a proximidade entre alunos da turma. E é uma ajuda para que os nossos alunos sintam a bonança, pelo menos na nossa sala de aula.

Por Ana Mafalda Lapa

Professora de Ciências Naturais e Biologia no Agrupamento de Escolas da Cidadela; Coordenadora da Estratégia de Educação para a Cidadania; Coordenadora da equipa do Gabinete GuIA; Coordenadora do Clube Ciência Viva